Reflexões a partir do artigo:
"TÉTANO NA POPULAÇÃO
GERIÁTRICA: PROBLEMÁTICA DA SAÚDE COLETIVA?"
Este estudo tem como objetivo refletir
sobre a situação do homem idoso, com relação ao tétano, dentro da perspectiva
da Saúde Coletiva. Trata-se de Estudo de Caso realizado com dois pacientes
idosos, do sexo masculino, portadores de tétano acidental, internados num
hospital do município de Fortaleza. A coleta de dados se deu entre março e
abril de 1998. A
análise mostra a ausência de cobertura vacinal e da implantação da profilaxia
de emergência. Os dois pacientes evoluíram para óbito confirmando alta
mortalidade por tétano entre este grupo etário. A reflexão crítica aponta para
urgência de abordagem de saúde coletiva.
Caso n.º 01
Histórico: Antônio, 77 anos, casado, residente em Fortaleza, foi admitido neste hospital, no dia 02/02/98, queixando-se de “dor na nuca”, sendo diagnosticado tétano acidental. A família revela que há 22 dias sofreu um tombo (caiu de cima da casa), tendo sido levado a um hospital de emergência nesta mesma cidade, onde foi feita rafia da lesão e estudo radiológico do crânio, o qual foi “normal”. A partir de então vem referindo dor na região da nuca com irradiação para o dorso, tem dificuldade para se alimentar, pois não consegue abrir a boca (trismo). Nega febre, vômitos e diarréia. Refere dor torácica, dificuldade para respirar e deambular. Nega tuberculose, asma, hipertensão arterial e diabetes. Refere cirurgia com enucleação do olho direito há 3 anos. Família não sabe informar história vacinal.
Evolução: Antônio deu entrada no hospital em cadeira de rodas, parcialmente orientado (dificuldade de orientação quanto ao tempo e espaço), eupnéico, moderadamente hipertônico, em hidratação venosa, referindo dor nos membros inferiores. Recebeu o esquema de soro antitetânico e a primeira dose da vacina, fez antibióticoterapia. Passou a apresentar quadros de intensas contraturas, permanecendo em isolamento sensorial e recebendo sedação de acordo com seu quadro clínico. Em 25/02/98 foi diagnosticado pneumonia, posteriormente apresentou quadro de dificuldade respiratória sendo conectado a um respirador artificial através de traqueostomia, em uso de nebulização contínua. Permaneceu com sonda vesical de demora até o dia 07/03/98. No dia 12/03/98, recebia nutrição parenteral total, hidratação venosa em veia periférica, usava coletor de urina, e abria os olhos ao ser estimulado. Evoluiu para óbito.
Caso n.º 02
Histórico: Cícero, 75 anos, casado, residente no interior do Ceará, foi admitido neste hospital no dia 08/03/98, queixando-se de dificuldade para abrir a boca, tendo como diagnósticos prováveis: tétano acidental, hipertensão arterial sistêmica ou acidente vascular cerebral. Há 15 dias sofreu queda da própria altura, após apresentar quadro suspeito de lipotímia, disto resultou ferimento lácero-contuso no supercílio esquerdo. Procurou o hospital da sua cidade, sendo realizada sutura. Ficou assintomático aproximadamente durante 72hs após o acidente,quando passou a apresentar dificuldade para abrir o lado esquerdo da boca, fechar o olho isolateral, associado a dificuldade progressiva para engolir e deambular. Procurou novamente o mesmo hospital sendo internado, recebendo hidratação venosa. É hipertenso e não sabe informar a medicação que faz uso. Vacinação anterior desconhecida.
Evolução: Na admissão Cícero apresentou dificuldade para deglutir e hipertonia do membro inferior direito. As crises contraturais fracas e espaçadas ocorreram à noite. No dia seguinte foi observado trismo e sangramento via oral de cor “vermelho vivo”. Fez uso de sonda nasogástrica quando apresentou secreção abundante, purulenta, espumosa e fétida, sendo aspirado várias vezes. Foi realizado tomografia computadorizada de crânio que mostrou acidente vascular cerebral isquêmico frontal à esquerda. Continuou apresentando crises contraturais que se exacerbavam durante as aspirações endotraqueais, foi entubado, instalada nebulização contínua e sonda vesical de demora. Permaneceu estável até 15/03/98 quando recuperou a percepção dolorosa, apresentou edema na região parotídea direita e membros inferiores. Em 17/03/98 respirava com rápidos espaços de apnéia, continuava apresentando contraturas ao manuseio e secreção endotraqueal. Em 20/03/98 foi instalado respiração mecânica, apresentando apnéia durante aerosolterapia, realizada dissecção de veia na região inguinal. Continuou apresentando crises contraturais e em 25/03/98 o quadro permanecia estável e foi realizada traqueostomia. No dia seguinte encontrava-se comatoso, traqueostomizado, em uso de respirador, em nebulização contínua pois apresentava secreções espessas e com tampões; ao ser aspirado, apresentava leve dispnéia mas respirando espontaneamente, as crises contraturais aumentando de intensidade e freqüência. Evoluiu para óbito no dia 30/03/98, por falência generalizada nos sistemas.
Pagliuca LMF, Feitoza AR, Feijão AR. Tétano na população geriátrica: problemática da saúde coletiva? Rev Latino-am Enfermagem 2001 novembro-dezembro; 9(6):69-75
Mas a final, o que é Tétano?
É uma doença grave que frequentemente pode levar à morte, causada por uma bactéria chamada Clostridium tetani presente no meio ambiente. É uma doença de notificação compulsória, sua profilaxia se dá através da vacinação. A doença atinge o Sistema Nervoso Central (SNC) após entrar na corrente sanguínea. Para
adquirir o Bacilo Clostridium Tetani é necessário uma porta de entrada, um
ferimento. A infecção começa a manifestar-se mais gravemente quando o indivíduo
não possui histórico vacinal e a ferida localiza-se próximo ao SNC apresentando
contraturas espasmáticas musculares, trismo, a chamada “Mandíbula Trincada”
caracterizada pela dificuldade de abrir a boca e deglutição. Rigidez e saliência
dos músculos abdominais e diminuição dos movimentos respiratórios agravam para
uma falência do sistema, por isso a importância da ventilação mecânica, há casos em que pacientes já acamados, encontram-se na posição de opistótono (indivíduo apóia-se
somente sobre a cabeça e os calcanhares), característico da doença.

Contudo,
o programa de vacinação prioriza gestantes com intuito de imunizar as crianças,
que por consequência também beneficia as mulheres, assim como os trabalhadores
inclusos no grupo de risco, como os da construção civil. Desta forma, explica-se
o grande sucesso da estratégia dos gestores em saúde na de prevenção do Tétano
Neonatal, no qual vem apresentando bons resultados.
Porém,
a cobertura vacinal não atinge a população idosa tornando-se vulneráveis, uma vez
que estão mais propensos a acidentes causados pela perda da capacidade motora e
da sensibilidade, também pela diminuição da resposta imune. Logo, a contração
da doença geralmente acontece por acidentes em ambiente domiciliar. Mas apesar das
mobilizações, iniciadas em 1999 pelo Ministério da Saúde, em defesa da saúde do
idoso e campanhas de vacinação direcionadas a este grupo, existem problemas que
condicionam o alto índice de letalidade pelo tétano em idosos, como por exemplo,
os indivíduos com esquema vacinal desatualizado ou sem Carteira de Vacinação, o
desconhecimento deste direito, a resistência a receber a vacina, a dificuldade
de acesso aos locais de vacinação e as próprias limitações físicas da idade.
Sendo
assim, com o aumento da expectativa de vida e das novas situações de demanda é
fundamental a criação de políticas publicas direcionadas a este publico visando
a diminuição de mortes causadas pelo tétano e prevenção, já que o tétano é uma
doença evitável.

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