O semestre em mim...

É com certa nostalgia que se aproxima o fim do sexto semestre do curso de Saúde Coletiva da turma de 2012/2. Entrei nesta turma um pouco depois, mas logo me senti a vontade. O receio de dar um passo a diante na graduação mescla-se com a ansiedade do estágio e o sonho da formatura.

Chegada a reta final, decidi dividir o último semestre de aulas presenciais diárias para despedida ser menos dolorosa. A desistências de algumas UPPs me proporcionou melhor aproveitamento e aprendizagem com qualidade das disciplinas selecionadas:

  • UNIDADE DE ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE E VIGILÂNCIA À SAÚDE V
  • TUTORIA VI
  • PROMOÇÃO E EDUCAÇÃO DA SAÚDE V
No segundo semestre de 2014 inicio com grandes expectativas o estágio curricular obrigatório na Coordenação Geral de Vigilância em Saúde (CGVS) sob orientação da profª Marilise Mesquita. Uma conquista desde a época em que cursava o técnico em enfermagem e iniciei uma noção básica de Saúde Coletiva.

Encerro este semestre com sensação de dever cumprido com as visitas nas casas de passagem da UPP de promoção, com a certeza de um futuro profissional promissor comentado nas aulas de tutoria e a satisfação de estudar sobre a saúde do trabalhador na UPP de Vigilância.





Novas perspectivas de um grupo

 Atualmente, sou bolsista do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), na Rede Governo Colaborativo em Saúde. Este projeto fez com que me tornasse voluntária no Programa de Educação Tutorial (PET) Conexões de Saberes Cenário de Práticas e de Estágios curriculares Noturnos neste semestre após dois anos de participação. Carinhosamente chamado de PET Saúde Noturno entre os estudantes, possibilita inúmeros ganhos em que a universidade não dá conta de proporcionar aos estudantes.
Permaneço no grupo pela troca de conhecimentos e experiências de cada estudante oriundo de três cursos da área da saúde e construção conjunta de novos saberes, pelo clima acolhedor que envolve cada encontro, pelas oportunidades de vivências diferenciadas, pela possibilidade de crescimento pessoal e acadêmico, pela diversidade de opiniões, os quais enriquecem qualquer debate, pela forma em que o grupo é conduzido, pelo aprendizado, pela proposta de incentivo ao protagonismo estudantil, pelo estimulo ao senso crítico, pela intimidade, afinidades e laços afetivos, em fim por tudo que o PET oferece aos seus integrantes e fora dele. Recentemente, a saída da professora tutora que fundou este PET causou certo desconforto no grupo, contudo a convivência com a nova tutora nos tranquilizou, tendo em vista o olhar diferenciado e cheio de novas propostas inovadoras de quem vivencia a extensão na Universidade. 


Neste sentido, acho que o grupo ganhou uma nova aliada, além de nos provocar mudanças necessárias e significativas de quem visualizava o PET de fora. Desde a criação deste, especifico dos quatro cursos noturnos da área da saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), se faz ações voltadas às necessidades e peculiaridades dos alunos noturnos, e sem elas o nosso grupo perderia o sentido. Na lógica de pesquisa, ensino e extensão é fundamental dar continuidade a esse tripé com participação em eventos de interesse à formação dos estudantes, realização de atividades extramuros da universidade, explorar territórios, proporcionar projetos de extensão aos colegas e aprofundar a pesquisa na temática do nosso PET. Assim como, permanecer com os encontros em método pedagógico de rodas de conversas, eventualmente com convidados.
Para mim, o PET deixou de ser um simples Programa da Universidade e se tornou parte da minha trajetória acadêmica, no qual não consigo me desvincular. É imensurável a relação entre o PET e seus integrantes, tanto afetivamente como academicamente. Assim como foi comigo, talvez seja confuso entender no inicio toda a dimensão, mas conforme o tempo e a compreensão do programa é fácil se apaixonar e todo esse processo é maravilhoso.







Práticas Integradas

A prática profissional na área da Saúde envolve concomitantemente relações sociais, expressões emocionais, aspectos biológicos e condições sócio-históricas e culturais dos indivíduos e dos coletivos, de forma que a interdisciplinaridade torna-se fundamental para a compreensão e atuação integral dos serviços de saúde junto às comunidades sob seu cuidado.

Neste sentido, o ensino baseado na integração pode proporcionar uma aprendizagem mais significativa e adequada às necessidades das comunidades, tendo em vista que os conhecimentos são organizados em torno de estruturas conceituais e metodológicas compartilhadas por várias disciplinas e saberes.


Pensando nisto, os currículos da graduação em saúde vêm sendo estimulados a buscar modelos que proporcionem uma formação integrada entre os diferentes núcleos de saberes, além do fortalecimento dos conhecimentos e habilidades necessários ao trabalho junto ao Sistema Único de Saúde (SUS).



Nesta lógica, a disciplina eletiva de Práticas Integradas em Saúde’ apresenta tem como objetivo proporcionar a integração da Universidade com o Distrito Assistencial Glória-Cruzeiro-Cristal. No decorrer deste semestre, nove alunos dos cursos de Biomedicina, Enfermagem, Farmácia, Nutrição, Odontologia, Políticas Públicas, Saúde Coletiva e Serviço Social vivenciaram na Unidades de Saúde da Família (USF) Divisa a experiência teórico-práticas no trabalho multiprofissonal em torno do processo de territorialização. 

As atividades ao longo da disciplina foram mapear as necessidades da equipes da USF, o qual apresentou a necessidade de um "mapa falante". A coleta de informações para a construção do mapa foi realizada presencialmente por todo o grupo, com apoio das Agentes Comunitárias de Saúde (ACS), obtendo a numeração de todas as casas pertencentes ao território da USF Divisa, além da identificação de equipamentos sociais presentes no território. Posteriormente, os dados foram sistematizados em um arquivo vetorizado em software Corel Draw Graphics X6, sendo a escala baseada na diagramação de mapa consultado no Google Maps.



A participação na disciplina permitiu a análise dos processos de trabalho e a problematização das práticas de saúde. Desta forma, ressalta-se que atividades que proporcionem práticas integradas têm grande relevância no processo de formação acadêmica e pessoal de discentes da área da saúde. Todavia, ainda observam-se currículos fragmentados e uma carência de oportunidades de experiências em cenários da vida real no processo de formação de profissionais da saúde, sendo fundamental o fortalecimento e a multiplicação de experiências similares à da disciplina de Práticas Integradas em Saúde I no meio acadêmico.




João de Barro

Neste semestre, na Unidade de Produção Pedagógica (UPP) de Promoção e Educação da Saúde do sexto semestre do Bacharelado em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), as atividades foram em torno de visitas às casas de passagem, meu grupo realizou atividades de intervenção no Abrigo João de Barro. A rica experiência nos possibilitou considerações e observações em aula nos trouxeram ao debate os seguintes aspectos:



·         Impressão geral sobre a proposta de intervenção para a promoção da saúde;
·         Identificação de temáticas para o semestre e as seguintes propostas de intervenção:
                       a) O papel do profissional da Saúde Coletiva.
                       b) O aspecto comunicativo nas intervenções.
           c) Conceitos de promoção e educação em saúde de pessoas em situações de risco e vulnerabilidade.

Atualmente o abrigo João de Barro está localizado em uma casa no bairro Cristal, na zona sul de Porto Alegre/RS, o qual abriga 18 adolescentes (sete estão no abrigo, seis estão na FASE e cinco estão evadidos). Há quatro plantões, com três educadores, quatro articuladores, uma técnica em enfermagem, dois vigilantes, duas cozinheiras e uma assistente social, por plantão. Os adolescentes são do gênero masculino entre 14 e 18 anos, oriundos de comunidades carentes de Porto Alegre.

Foram realizadas uma visita técnica e quatro intervenções, a primeira aconteceu dia 24 de abril de 2014, realizamos uma dinâmica de perguntas e respostas envolvendo temas como: saúde e ambiente, autocuidado, saúde e esporte, motivações e anseios. Obtivemos êxito na interlocução com os meninos, eles foram bem receptivos e participativos, ao final servimos uma cachorro quente e comemoramos o aniversário de um dos jovens da casa e um dos integrantes do nosso grupo.

A segunda intervenção foi realizada dia 22 de maio de 2014, realizamos outra rodada de conversa e levamos sobremesas à pedido dos meninos da casa, pois percebemos que chegávamos logo após do jantar.



A terceira intervenção ocorreu no dia 05 de junho de 2014, com lanches típicos de festa junina, bandeirinhas para enfeitar a casa e a oficina de grafite em MDF. Proporcionamos uma festa junina, com lanches típicos e ao mesmo tempo fizemos uma oficina de grafite que teve a participação da maioria dos meninos. Ainda contextualizamos a diferença entre grafite e pichação, na tentativa de uma pequena reflexão sobre cidadania.




A quarta intervenção ocorreu quinta-feira (03/07/2014) e fizemos uma oficina de direitos humanos com os educadores e oferecemos um lanche dietético para os meninos, dada a situação de que fomos avisados no final do semestre pela técnica de enfermagem de que um dos meninos possuí Diabetes Mellitus tipo II, a mais nociva e na condição crônica da necessidade de insulina. Após o lanche da terceira intervenção o adolescente com hiperglicemia, foi parar no pronto atendimento mais próximo.


Na passagem “como campo de conhecimentos, a Saúde Coletiva requer a contribuição específica das disciplinas biológicas e sociais e a participação dos profissionais destas áreas. Aí reside uma peculiaridade epistemológica desse campo de saber, que confere a ele riqueza intelectual no sentido da universalidade do conhecimento, na melhor tradição iluminista” (ELIAS, 2003, p.168) Paulo Elias, militante e médico sanitarista, professor da USP, falecido em 2011, me sintetiza o entendimento prático, de que não precisamos desvalidar às práticas tradicionais voltadas ao campo da saúde, muito pelo contrário, isso seria até um pecado, então na realidade não devemos, o que nos compete é compreender  e equacionar essas questões de maneira estratégica,  seja em que esfera estaremos atuando de modo a integralizá-las, seguindo é claro as premissas do Sistema Único de Saúde Brasileiro e das questões colocadas lá atrás nos anos 80, na Conferência Nacional de Saúde, ocorrida em Brasília, ato que reuniu diversos atores do movimento Sanitarista, desde usuários, profissionais da saúde, políticos e lideranças populares, intelectuais e alavanca a Reforma Sanitária no país. Foi de suma importância refletir lado-a-lado com esta população sobre todas as questões abordadas ao longo da graduação, pois constatamos que sim, existe espaço para atuarmos e que aproveitem talvez a maior competência e ou habilidade que adquirimos ao longo do curso, o olhar ampliado, integralizado, olhar para o sujeito como um ser imperfeito, cheio de defeitos mas que tem necessidades não só em saúde mas também de qualidade de vida que incorpora tantos outros conceitos.